2007, não aperte assim meu peito, é capaz que se rompa o
pericárdio e não me resta, além de fisiológica, nenhuma outra proteção. Não
desmembre átrios e ventrículos em mínimas linhas imaginárias de retalhos com
seu bisturi de precisão cirúrgica que opera sem anestesia palavras de sentido
figurado e sentimentos de dor real por mil e um dias e noites, de centenas e
dezenas de milhares de vezes.
Aquele que se propôs a reconstruí-lo não era médico, e não
entendia de construção, nem biológica e nem civil, não sentia, mas de forma
instintiva e animalesca juntaram-se os corpos, e nem Frankenstein sonharia em
tão pouco tempo ser tão remendado quanto eu. E do remando ao fogo sem
explicação, me incendiara de todas as formas boas e ruins, até ser cinza o
mundo, minha cor preferida e o meu coração.
Aquele que remediou, eu o chamei de água e deixou-se
entre nós um fluir límpido daquilo que sacia e abranda mas
sempre procura por outras correntezas, e procurou.
Sete anos depois meu coração jamais voltará a ser carne e
bombeador de sangue, este é condenado a ser um órgão místico e metamórfico que
morre todos os dias por toda a eternidade que lhe é concebida, mas ninguém o vê
de perto, ninguém faz ideia do que as ações e reações externas causaram dentro
de mim.