Ana acorda!
Uma figura desfocada que passou no meu portão durante o
sono de um sonho quer afrontar o meu sistema, me implanta pensamentos desnecessários
e com seus traços me envenena.
A figura era cega, deforme, mutável, com feições tão
conhecidas que me põem em decadente reflexão irremediável. Já não me inquieta a
vida? Será que ao menos não posso dormir o sono dos justos sem sustos?
Eu persegui a figura do portão durante o sonho, foi o
sonho da minha juventude. O que eu consegui?
Caleidoscópio de emoções e metamorfoses.
Fugindo e sempre em movimento, de várias formas a mesma
coisa repetidas vezes, há falta de argumentos que possam explicar o quanto é
desesperador conhecer e não ver, ver e não saber, querer e não ter.
Ao dormir se ama,
ao acordar se odeia, ao viver se mata.
A morte do amor me
deixou um legado de dúvidas, fez um quebra cabeça da minha carne retalhada com
as tragédias do meu mundo, e este está espalhado em inúmeras dimensões, eu não
posso montar.
Posso como desculpa projetar minhas frustrações na figura,
já que ela não é nada além de uma insignificante deformidade espectral invasora
de sonhos. Que vague com sua cegueira no seu caminho roubado da minha mente,
que vá para o inferno e nunca saia!
Se tenho necessidade de corpos e palavras em forma de
catarse, é para cegar minhas atitudes no plano das ações, para que eu possa
alegar que sou eu a minha própria criatura, é inadmissível que ela ainda seja
reflexo de outras pessoas. Te asseguro que não é.