sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Bloody Mary

Abra os olhos! Ana, você está atrasada, corre!
Moro em um enorme prédio de paredes cinza, na esquina, no centro da cidade obscura, como um cenário de Apocalipse zumbi, de vivos. Desço e esbarro em sombras, em gente que já foi pintada com cor-de-alma.

Chego à repartição municipal, seu piso de granito batido está alagado, aqui entram os que buscam solução no seio da máquina de criação de problemas.
Estou preparada e muito confiante para isso, e para tudo.
Uma moça que não posso definir suas características embaça meus olhos com sua postura ereta e séria, já podemos começar.
“Quais são suas habilidades? Vocês foram indicadas com ótimas referências.”

Não me sinto lisonjeada, nada relacionado com repartições, prédios de esquina no centro e boas indicações me soam lisonjeiro.
Abro minha boca para repetir roboticamente as coisas importantes que sei, como quem foi enxertada com aço e agora é peça de engrenagem que será acoplada a sua nave mãe. Essa sou eu sendo responsável no seu mundo.

Seja normal e pareça preocupada com dinheiro.

Sinto aquele gosto, o de sempre que eu adoro. Não posso mais falar, estou muito ocupada bebendo e afogando no meu próprio sangue, que bem ali na frente de todo esse indevido contexto, jorra da minha boca em torrentes. Isso me excita de tal forma, que desejo beber o sangue do mundo inteiro e depois vomita-lo de volta para adubar a terra, e ver se assim nasce uma planta que lembre que possuímos órgãos frágeis, que mostre que todos nós somos humanos.

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